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Archive for setembro \23\-03:00 2007

Preguiça de domingo ou falta da disciplina do padre Assis (ver aqui o que quer dizer isso)? Acho que os dois, pois são direitos inalienáveis dos domigos de setembro em Olinda. Resolvi então fazer uma pesquisa arqueológica nos discos rígidos da internet para reeditar este texto, que postei logo depois da viagem à China em junho deste ano (para os mais curiosos, clicar na coluna da direita na categoria “viagem à china”). “Arqueológica”? Mas claro: o meu filho Lucas me disse que uma notícia na internet fica velha em 32 horas — tempo suficiente para ser vista por 50% de TODOS os leitores que vai ter na vida eterna que conquista com a primeira postagem. Então resolvi “aumentar” a vida eterna deste post, do qual gostei particularmente. La vai:

O meu amigo Ennio já postou aqui uma série de fotos muito ilustrativa da “nova mulher” chinesa. Até me lembro da situação em que foram tiradas muitas delas: estávamos fora de um shopping central de Shanghai (diz-se “shan-rai”) por uns bons minutos, enquanto esperávamos uma carona, e ele resolveu dar uma de voyeur digital com a sua recém-adquirida Nikon. Ficou um ensaio-síntese interessante, amostral, da juventude chinesa metropolitana.

Agora, resolvi completar o trabalho de Ennio com uma outra observação. Vimos em alguns lugares exemplares da pintura moderna chinesa e um detalhe me chamou atenção, só agora me dando conta: sinto com se houvesse um movimento pictórico de recuperação do doçura feminina, antes ocultada pelo “realismo socialista” da velha pintura maoísta. Vejam abaixo:

a nova mulher na pintura

É como se houvesse uma busca do detalhe antigo, do bracelete, da roupa, da languidez do olhar, da pintura do rosto, do abanico tradicional. Mais importante ainda: a iluminação. Quase que invariavelmente um raio de luz forte realça o rosto da modelo, trazendo à tona o indivíduo, antes submerso na pintura grupal, coletiva.

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goleiro faz gol historico sem oposiçaoNo começo da semana, na Inglaterra, um gesto de nobreza moral pra lavar a alma dolorida de todos nós (com tanta coisa ruim acontecendo no brasilzim de mensalões). Uma partida entre o Nottingham Forest e o Leicester havia sido cancelada há três semanas quando um jogador do Leicester teve um ataque cardíaco. O placar estava 1 a 0 para o Nottingham. Pois não é que o Leicester, na partida retomada nesta semana, cedeu o gol de volta ao Nottingham?

O goleiro do Nottingham foi quem fez. Vejam no YouTube, pra não esquecer nunca mais. Confesso que, ao olhar na televisão a cena, cada passo do goleiro — saindo do meio do campo lentamente, sob o silêncio absoluto das duas torcidas, sem nenhum jogador do Leicester se opondo a ele — doía na minha alma sofrida com tanta coisa ruim que a gente tem visto no Brasil. Também, quando ele chutou pro gol, depois de cumprimentado por seu companheiro de profissão, o sentimento mais profundo de nem-tudo-está-perdido já havia assumido o controle de mim. Felizmente. Dormi agradecido ao velho esporte bretão, que ainda nos dá aulas originais.

PS.: sim, o Leicester ainda ganhou de 3 a 2, no finzinho do jogo…quer dizer: os deuses do esporte também agradeceram, à sua maneira, pelo gesto nobre.

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brazil-lower-middle-class.gifHouve um tempo, nas conversas da esquerda neste país, em que se maldizia a alienação da classe média (aliás, palavrinha que desapareceu essa, alienação…). Era com se fosse o atraso, a contraposição anti-revolucionária do individualismo à tendência coletivizante dos sonhos socialistas. Mais ainda quando se associava a esses o pensamento sindical, que se estratificou num partido (o PT) e hoje se encastelou no poder (pesquisa da FGV demonstra que 45% dos mais altos cargos do Governo Lula estão nas mãos de sindicalizados)

Pois não é que o PT desdemonizou a classe média? Numa visão utilitarista (serve aos argumentos do crescimento nunca-antes-na-história-deste-país? então pega, depois joga fora), surge no discurso oficial, de repente não mais que de repente, a “nova classe média” (ver apresentação do ministro Mantega aqui). Isso depois que a The Economist teceu loas à boa notícia de que esse segmento vinha ganhando maior participação na sociedade latino-americana (ver gráfico, caso do Brasil). Na realidade, um outro tipo de classe média, não a mesma dos anos 80, 90, que foi perdendo poder aquisitivo, mas uma nova classe média “from the bottom up”. A classe C cresceu, começou a comprar computador, a trocar a geladeira por outra mais sofisticada, a usar a internet.

Enquanto esse novo personagem entra no gráfico de barras dos economistas, é uma coisa (os economistas do ministério da Fazenda fizeram uns bem bonitinhos pro ministro). Outra bem diferente é quando entra na análise dos sociólogos e cientistas políticos. Ai é que está o nó: o que vão pensar e como vão agir esses novos usuários da informação (atenção!) é que são elas (e eles).

A minha aposta é num reencontro muito interessante: de um lado, a “velha” classe média cansada de guerra, de safadeza, de corrução no governo, desencantada com o voto que deu ao PT “sem medo de ser feliz”; de outro, os “novos-ricos” da informação, a ex-futura classe operária que não foi ao paraíso nem freqüentou os sindicatos, os recém-apaixonados pelo orkut, pelo correio eletrônico, pelos chats, os usuários das redes sociais na internet. Uma entrevista muito interessante no Estadão, do cientista político Amaury de Souza, trata disso, mesmo que de forma breve, mas muito criativa. Não por acaso é um carioca.

Definitivamente, estamos precisando de mais cientistas sociais cariocas do que de economistas paulistas (que vergonha, Mercadante…) para interpretar essa nova realidade emergente no Brasil. Que bom que venha do Rio de Janeiro uma voz que se contrapõe ao bonapartismo sindical paulista no poder.

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O orvalho da grama doía nas minhas canelas de menino. Também, fazer educação física às cinco horas da manhã… Era tão escuro no campo de futebol do Colégio Diocesano de Patos que ainda dava pra ver a luz que saía pela janela insone do padre Assis.

por do sol no sertaoComo a curiosidade não mata, morria de vontade de ver de lá. Era uma janela de primeiro andar, olhando pro campo e além dele, para o rio Espinharas. Hoje percebo que era muito mais além o que enchia os olhos do padre e a minha curiosidade — era a serra de Teixeira, pintada do sol amarelo-avermelhado que só a tardinha sertaneja tem. E vejo, na distância da saudade, o que coloria de vermelho a “Crônica das Doze” do padre Assis, que já nos deixou ainda nos anos 80.

“O sol…tintas vermelhas no horizonte.” Começava assim a crônica na Rádio Espinharas de Patos que fazia brilhar os meus olhos de infância no sol do meio-dia. Por isso, pedi ao padre, supervisor escolar da Diocese de Patos, na Paraíba, hábil nos sermões e virtuoso na crônica, para batizar a nova fase deste blog.

Em sua homenagem, e procurando inspiração na “Crônica das Doze”, todo santo dia na rádio (ah, a disciplina…), vou tentar a observação diária desses novos tempos. Quando chegar perto do meio-dia, vou afastar a atenção da janela do computador e buscar a tinta vermelha do padre Assis para colorir as minhas retinas digitais.

Abença, padre.

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