Houve um tempo, nas conversas da esquerda neste país, em que se maldizia a alienação da classe média (aliás, palavrinha que desapareceu essa, alienação…). Era com se fosse o atraso, a contraposição anti-revolucionária do individualismo à tendência coletivizante dos sonhos socialistas. Mais ainda quando se associava a esses o pensamento sindical, que se estratificou num partido (o PT) e hoje se encastelou no poder (pesquisa da FGV demonstra que 45% dos mais altos cargos do Governo Lula estão nas mãos de sindicalizados)
Pois não é que o PT desdemonizou a classe média? Numa visão utilitarista (serve aos argumentos do crescimento nunca-antes-na-história-deste-país? então pega, depois joga fora), surge no discurso oficial, de repente não mais que de repente, a “nova classe média” (ver apresentação do ministro Mantega aqui). Isso depois que a The Economist teceu loas à boa notícia de que esse segmento vinha ganhando maior participação na sociedade latino-americana (ver gráfico, caso do Brasil). Na realidade, um outro tipo de classe média, não a mesma dos anos 80, 90, que foi perdendo poder aquisitivo, mas uma nova classe média “from the bottom up”. A classe C cresceu, começou a comprar computador, a trocar a geladeira por outra mais sofisticada, a usar a internet.
Enquanto esse novo personagem entra no gráfico de barras dos economistas, é uma coisa (os economistas do ministério da Fazenda fizeram uns bem bonitinhos pro ministro). Outra bem diferente é quando entra na análise dos sociólogos e cientistas políticos. Ai é que está o nó: o que vão pensar e como vão agir esses novos usuários da informação (atenção!) é que são elas (e eles).
A minha aposta é num reencontro muito interessante: de um lado, a “velha” classe média cansada de guerra, de safadeza, de corrução no governo, desencantada com o voto que deu ao PT “sem medo de ser feliz”; de outro, os “novos-ricos” da informação, a ex-futura classe operária que não foi ao paraíso nem freqüentou os sindicatos, os recém-apaixonados pelo orkut, pelo correio eletrônico, pelos chats, os usuários das redes sociais na internet. Uma entrevista muito interessante no Estadão, do cientista político Amaury de Souza, trata disso, mesmo que de forma breve, mas muito criativa. Não por acaso é um carioca.
Definitivamente, estamos precisando de mais cientistas sociais cariocas do que de economistas paulistas (que vergonha, Mercadante…) para interpretar essa nova realidade emergente no Brasil. Que bom que venha do Rio de Janeiro uma voz que se contrapõe ao bonapartismo sindical paulista no poder.
Creio que os bottom-up não terão a capacidade de absorção e paciencia da turma dos 80/90, logo, nos próximos 5 anos os ânimos estarão bem mais acirrados e o poder terá que responder melhor senão………….BUM.
FORTE ABRAÇO
é verdade, rui…por isso que, eterno otimista, aposto no entendimento desses dois contingentes (a velha e a nova classe média), gerando novas formas de participação democrática on-line com uma predominância ética acima da média dos nossos representantes no congresso.
não é por acaso, só pra pegar um exemplo, que os servidores de email do senado “deram pau” com o escândalo da absolvição de renan …é o tsunami digital da classe média.
você sabia que 34% dos jovens de 15 a 24 anos em pernambuco acessam a internet, mesmo que menos de 10% das casas tenham computador?
quer dizer: político que se preze, ou dá atenção ao fenômeno das lan-houses no interior do estado ou está frito na próxima eleição…
Cláudio: muito oportuno o seu texto! Creio que mais à frente vai haver convergência, não só ética, mas de posicionamento, entre as duas classes, na medida em que a antiga, embora tenha perdido poder aquisitivo, espaço, representatividade, esperança, etc., ainda tem um stock bastante apreciável de capital humano, vale dizer, de conhecimento. Capital esse que a nova classe ainda está começando a adquirir (por enquanto a preocupação desse grupo é de natureza mais imediatista, é com a elevação dos seus níveis de consumo, o que lhe é facultado pelos ganhos reais de renda recém adquiridos). Num determinado lapso de tempo, e isso já pode estar acontecendo, as preocupações e aspirações das duas classes serão cada vez mais convergentes, por influências recíprocas.
No entanto, vc colocou bem, para entender melhor o fenômeno, nós, economistas, temos que apelar para os cientistas sociais!! A bola tá com eles, pois…
Grande abraço e parabéns pela abordagem
Maurício Costa Romão
é isso, maurício…[uma rima, talvez uma solução…:]
antes da convergência das duas classes, talvez a convergência entre economistas e outros cientistas sociais seja um primeiro passo…
quem se habilita? cadê o debate nas nossas universidades?
[…] finalmente, ao país. Nada contra o fenômeno da classe média emergente (já me posicionei aqui sobre isso), com o aumento do poder aquisitivo da classe C/D, comprando tudo que caiba na […]
Profeta ou o que quer sejas!!!!!!!!!!!!!!!!
Ao mestre com carinho!!
eita! profecia autorrealizada (será que é essa a nova grafia?). as ruas do dia 16 de agosto vão mais uma vez, como no barulho das caçarolas, demonstrar que estávamos certos, rui! reveja seu comentário, o do BUM! … :))))