Pense num pesadelo: lá vinha eu na minha parati-velha-de-guerra quando me deparei com a cena cotidiana. Na traseira do ônibus, o outbus (engenhosa mídia externa que já supera em poder de mercado os outdoors tradicionais) proclamava: moto de tantas cilindradas, marca chinesa, em 38 prestações de 158 reais…
Meu deus do céu! Do jeito que já está, com os nossos ziguezagueantes motoqueiros, isso vai ficar uma “pequim” de motos… E imagine mais esta: em 2007, batemos todos os recordes na nossa indústria automobilística, com mais 2,5 milhões de carros nas ruas. Isso tudo por causa do crédito mais barato.
Nada contra o barateamento do crédito — o capitalismo está chegando, finalmente, ao país. Nada contra o fenômeno da classe média emergente (já me posicionei aqui sobre isso), com o aumento do poder aquisitivo da classe C/D, comprando tudo que caiba na prestação mensal, de moto a DVD, passando pelo computador, que neste Natal é o segundo objeto do desejo dos recifenses, só perdendo para roupa nova (!!), segundo pesquisa publicada nos jornais locais.
O que me assombra — planejador urbano dos anos 70, quando a preocupação com planejamento das cidades era parte da política pública, BNH, Conselho Nacional de Política Urbana, planejamento metropolitano, planejamento de transportes com engenheiros competentes, cursos de mestrado de planejamento urbano nas melhores universidades etc. — é que não há NENHUMA preocupação sistemática em preparar as nossas cidades para um novo ciclo de crescimento. Se o país crescer a 5% ao ano, as nossas cidades param, literalmente, em engarrafamentos monumentais costurados por motoqueiros-acrobatas (na melhor hipótese: é cada vez maior o número de assaltantes e matadores profissionais disfarçados de motoqueiros).
Fazer o quê? Primeiro, é um direito do cidadão subir na vida, comprar as motos, o carrinho mil. E encher as ruas, públicas, por definição. Depois, o que provoca a nova onda de consumo é o mesmo fenômeno econômico que faz crescer a arrecadação de impostos pelo governo. Então? Falta governo e vai faltar mais pra botar ordem no caos urbano que se aproxima, para replanejar a alocação de recursos para investimentos e manutenção das cidades. Isso exige política nacional, articulada com os níveis locais. Não está na agenda pública tratar disso.
E o pior é que não houve renovação de competência na máquina pública para tratar do desafio do transporte metropolitano.
Valei-nos, São Cristóvão, protetor dos motoristas!
CM,
E valei-nos todos os santos, a nós que temos consciência urbana e ecológica, mas ficamos reféns do sistema de transporte que é regido pelo proprietário da empresa e não pelo poder público.
Meu sonho de consumo e só ir na capital 01 vez por semana ainda está longe de acontecer…
AngelaN
angela,
e você não está na situação pior: é só pegar o transporte público em faixa exclusiva na pe-15 triplicada.
agora, imagine o cidadão monodependente do transporte individual, morador de casa forte e boa viagem, morrendo de medo em dezenas de sinais comprovadamente perigosos (você já viu como eles param, a dezenas de metros da faixa de pedestre, olhando pra todos os lados, como medo do ladrão, do cheira-cola, da dupla de motoqueiros que para do lado? meu deus…).
abraço.
Nossa, se preparem para Recife ter um trânsito digno de Beijing.
victor,
periga você não sentir falta de beijing em plena agamenon magalhães…só não posso garantir que será uma “avenida da paz celestial”…
abraço