Uma discussão entre os economistas vai e volta: a nossa economia perderia força com a menor participação da indústria na formação do PIB. Isso diante da evidência de que o produto e o emprego são cada vez mais gerados pelos serviços, tanto nas economias periféricas como nas economias centrais (mais de 60%, no caso do produto em ambas as situações). Que perde força nada…
Foi pensando nisso que fiz este “instantâneo celular”. Vejam que interessante: uma carrocinha de cachorro-quente, a CONTAXgiante, na calçada da CONTAX, o call-center da OI/Telemar na Gervásio Pires, Recife. Um bom exemplo do efeito-renda na economia em volta dos serviços — os serviços gerados pelos serviços. E o nome é ótimo, tem tudo a ver: o atendente da CONTAX (o emprego gerado no serviço prestado pela Telemar às empresas e às famílias) ganha poder de compra e compra a coxinha-com-fanta na CONTAXgiante, gerando o emprego do dono da carrocinha (e outros) e “contagiando” a economia em volta. Isso sem falar da criatividade e empreendedorismo do pequeno negociante ao escolher o nome e o posicionamento do quiosque de lanches, o que seriam tema para outro post.
Mas quero falar mesmo é desse negócio de EFEITO-RENDA. Isso é tão importante (e tão pouco estudado) que ainda permanece válido citar um trabalho feito em 1999 sobre o tema por Sheila Najberg e Marcelo Ikeda, do BNDES (veja aqui uma atualizaçao realizada pelos autores em 2004). Para se ter uma idéia do que isso significa, vejam o caso de uma refinaria. Para cada 10 milhões de reais de aumento de produção numa refinaria, pelo estudo do BNDES calcula-se que seriam gerados apenas 2 empregos diretos, mas esse número tem um efeito multiplicador de 31 vezes sobre empregos indiretos (gerando, portanto, 62 empregos em setores fornecedores da refinaria) e de 104 vezes (!!!) pelo efeito-renda (poder de compra aumentado dos empregos diretos e indiretos, que passam a consumir mais, especialmente bens de consumo doméstico), gerando 208 empregos.
Bom, não é? E no caso do setor de comunicações (exemplo do nosso call-center da foto)? Para cada 33 empregos gerados pelo aumento de 10 milhões na produção são gerados 227 do efeito-renda (entre eles o dono da CONTAXgiante). Mas, vejam, o estudo do BNDES traz também um alerta: não adianta só criar o emprego, tem que mantê-lo pelo cresimento da produtividade. No nosso caso da CONTAX, uma boa notícia: o setor de comunicações vem aumentando produtividade. Quer dizer, será que a CONTAXgiante está no melhor dos mundos, com demanda garantida dos atendentes famintos? A barraquinha emprega pessoas sem exigir muita qualificação (drama da nossa sociedade, não é verdade? e ainda vai levar um tempo pra gente resolver isso pela melhoria da educação…) numa atividade-satélite (literalmente: fica na calçada do call-center) de um serviço moderno e competitivo.
Eu bem que poderia ser tentado a dar razão ao meu mestre em ecologia Vasconcelos Sobrinho que, nos anos 70, defendia uma “ecologia humana” em que tinham lugar lavadores de automóveis, empresários, empregadas domésticas, engenheiros etc., num símile do mundo animal/vegetal que ele tando adorava. Mas os meus amigos sociólogos e cientistas políticos iriam me “tirar o couro”, chamando o feito à ordem dos nossos sonhos de igualdade social… Fica pelo menos a homenagem ao grande precursor do ambientalismo entre nós.