Uma notícia na Newsweek de 24/09/2007 me atraiu a atenção: nós fomos chamados pelo artigo de “schmooze nation”, o “país dos conversadores”. Quer dizer: a turma aqui gosta mesmo é de se encontrar na internet, de um papo no orkut, de uma conversinha no MSN. Aquela conversa de bar, de happy-hour, do cafezinho se transferiu inteira pra internet.
Aí não deu outra: dos 44 milhões de usuários do orkut (o site de comunidades na web), mais da metade (57%) são do Brasil. A muito grosso modo, é como se todo mundo que tem um email por aqui também tivesse uma conta no orkut (só 11 milhões de lares têm acesso à internet). E a maior parte desse pessoal é jovem — só em Pernambuco, 34% dos jovens entre 15 e 24 anos acessam a web (pesquisa do IPESPE, julho de 2007). Isso é impressionante, já que menos de 10% dos casas no Estado têm computadores ligados à internet.
E sabem onde a meninada está indo pra “entrar” na internet? Eles estão indo pras lan-houses — lojinhas com computadores em rede nos bairros populares das grandes cidades e nas pequenas cidades do interior, onde pagam em média 1 real por hora. É um negócio auto-sustentável, senão não existiriam tantas, e sem nenhuma interferência do setor público (talvez por isso mesmo proliferaram tão rápido…).
Quer dizer, se o Brasil quiser mesmo fazer uma política massiva de inclusão digital, já tem um caminho: a lan-house. Sonho com o dia em que o BNDES, com o lado “S” da sua política e com a convicção de que também faz política econômica, decida financiar a implantação de 100 mil lan-houses por todo o Brasil, cada uma com 10 computadores, abertas 12 horas por dia. Já pensaram no que isso poderia causar? Mobilizaria as nossas fábricas de PCs, aceleraria a inclusão de milhões de jovens no mundo da internet, poderia estar associado a programas educacionais, de apoio a pequenas empresas etc.
Por que não iniciar com um projeto-piloto, para testar a eficácia do investimento em milhares de pequenos empreendedores que já provaram a sua competência e criaram um mercado insuspeitado? Poderia ser usada, por exemplo, a experiência do Banco do Nordeste com o crédito ao pequeno produtor, já que o BN é agente financeiro do BNDES.
Não podemos mais perder tempo com programas de inclusão digital que não ganham escala num país de dimensões continentais como o Brasil. O governo federal sozinho já demonstrou que não é capaz disso. Até hoje, 5 anos depois da aprovação, não liberou um tostão do FUST, fundo criado para universalização das comunicações (!!). Já são mais de 5 bilhões de reais contingenciados, o que daria para ter financiado umas 200 mil lan-houses, promovendo a inclusão digital de mais de 20 milhões de jovens.
Contingenciamento do FUST e programa de inclusão que não inclui ninguém são frutos de um Estado apaixonado por estrutura e averso a ação. As 200 mil lan-houses propostas no teu artigo só seriam possíveis num Brasil adepto de um Estado bem menor e um pouco mais inteligente.
pois é, guilherme.
a minha posição sobre esse negócio de estado mínimo é bem clara, depois de 27 anos como gestor público: o brasil precisa mesmo é de um estado SOFISTICADO, nem pequeno nem grande.
um estado CAPAZ de entender o que está ocorrendo no mundo, de definir uma estratégia espacial e temporal, de equipar-se para pilotar um plano robusto e negociado com a sociedade e … CORRER. afinal, o mundo gira e a Lusitânia roda.
Pois é, Cláudio. A lan-house me atrai. A primeira vez que “precisei” entrar numa – já com 40 anos – fiquei um pouco assustada: havia uma música diferente, a luz era diferente… mas a internet era a mesma! Salvei o meu dia! Depois usei outras vezes na Serra de Martins – interior do Rio Grande do Norte e em Patos lá no sertão da Paraíba. Claro que utilizo quando estou viajando ou o computador de casa tem um “piripaque” ou ainda quando estou na rua e, curiosa como sou, quero ler uma mensagem…mas é isso! Viva as lan-houses!
lis,
quando a gente tiver as lan-houses de serra de martins, patos, catolé do rocha, encruzilhada de são joão, taperoá, serra dos machados, juazeirinho, soledade (ah, solidão), santa cruz da baixa verde (imagine…lá no alto), juazeirinho (por dentro, comendo juá…), serra da capivara (internet ancestral…)….CONECTADAS, jovens de mundos distintos e tão próximos vão fazer a rede social mais bonita que só vendo…esse é o plano diabólico por trás disso tudo, só aqui pra nós, que o bndes não saiba…:)
CM,
São requesitos necessários a um gestor “sofisticado” suas qualidades, a clareza com voce percebe a realidade e a sensibilidade para a inclusão, não aquela que “dá” aos pobres e desvalidos, mas a inclusão em que a pessoa, jovem, adulto ou de melhor idade, tem a oportunidade de exercer sua cidadania, onde o digital é uma ferramenta que nos torna todos nós, membros da mesma aldeia.
E aí que fazemos nós, atores das ciências da informação para abrir a torneira do FUST????
ih angela
já desisti do FUST…por essa razão parti “pra cima” do BNDES…:)
CM,
Excelente. Mas como um otimista sempre acredito que chegaremos lá. As vezes a velocidade é menor do que a desejamos. Ver isso aqui http://www.telecentros.desenvolvimento.gov.br/sitio/inicial/index.php
Não conheço os detalhes mais recentes. Estive apenas na discussão inicial de sua formulação. Desdobramentos de uma proposta como esta de uma forma mais abrangente para incluir a sociedade como um todo seria interessante. Mas pra dar certo vc já apontou o caminho: envolver o setor privado local e incluir o BNDES no projeto. Turbinava mesmo a criação de pontos de acesso a internet a custo baixissimo para toda a população. Aumentaria também o contato físico entre as pessoas locais. Estariam se encontrando a caminho da lan-house. Sou adepto do bate-papo das calçadas sem exclusão do virtual.
era,
legal a idéia da conversa na calçada associada às lan-houses — mais ainda nas cidades do interior (ver minha resposta a lisbeth acima).
agora, quanto aos telecentros, acho no mínimo patriótica a dedicação do nosso amigo rincón ao projeto, mas não ganha escala — daí minha radicalização com o bndes.
cliquei no mapa de pernambuco no site que você indicou e vi que só há 23 telecentros depois de 4 anos (temos 185 municípios). é que funciona na base de doação de computadores e voluntarismos, não chega lá…tem que ter a escala massiva que só o bndes pode dar neste país continental, junto com a iniciativa privada.
Olá…
Estava dando uma lida no que foi escrito, e gostaria de deixar uma exclamação…
Faço parte da ABCID, Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, essa associação foi criada recentemente e engloba principalmente as Lan Houses e Cyber Cafés…
Uma de nossas intenções é, PRINCIPALMENTE, limpar a imagem das Lan Houses perante os politicos e muitos pais, que enxergam a Lan House como uma “Casa de Joguinhos”, cheio de moleques e delinquentes… Quando na verdade somos “Centro de Inclusão Digital” que dá acesso a quem não tem condições de ter um PC em casa…
Para isso pretendemos, tirar da informalidade a maioria das Lan e Cybers existentes… Tornado-as em sua maioria legalizadas e automaticamente mais valorizadas e respeitadas…
E para isso estamos procurando parceria com grandes empresas como Microsoft e AMD… Com politicos, para a criação de uma lei Federal para nosso setor…
Além de já termos ido a Brasila e falado com Ministério de Ciências e Tecnologia, que tinha uma idéia completamente conturbada do é realmente uma lan house, e de quantos somos na verdade… Para eles não passavamos de 1200 no Brasil inteiro!!
Hoje eles já nos enxergam de outra maneira e possivelmente até o final do ano estejamos incluidos no MID (Mapa de Inclusão Digital do Brasil)… http://www.ibict.br
Para quem quiser nos conhecer melhor, nosso site é: http://www.abcid.com.br
Obrigado…
Bem boa a todos, sou proprietario de um pequeno grande negocio e atuo na pelo com o comentario do nosso amigo agora ja fui atraz de emprestimo nao para abrir a lanhouse ja que ela ja existe mas sim para pode melhora-lá 1º que ouvi que o banco do nordeste nao tem interrese em investir em lanhouse pois o faturamento das mesmas nao e grande 2º que para emprestimo acima de 5.000,00 e presiso de fiador etc etc etc, enquanto eu sei que tem empresa grande que pega emprestimo sem nenhum tipo de garantia mas o que acontesse podem dizer que e porque o banco julga que o local tem capacidade de realizar o pagamento ou porque o dono do mercantil chamo a pessoas que cuida da liberaçao do credito pra almoçar ir numa festa conhecer uma garota bla bla bla sabemos que a realidade esta ai Lanhouse ou Centros de Inclusao Digital que seria o melhor nome a se colocar realmente influi na inclusao digital e nos estamos agora na luta com a ABCID, 200 mil lanhouse eu dou certeza a voces que isso exsite so no estado de sao paulo fora demais estados.
oi alexandre,
obrigado pelo comentário providencial. fiquei agradavelmente surpreso e esperançoso ao conhecer a iniciativa de vocês na abcid — parabéns.
agora o bndes tem um interlocutor!
abraço
ps. curiosidade: quantas são as lan-houses hoje no brasil, na estimativa de vocês?
oi ronaldo,
1/conheço a via-crucis citada com os bancos — estou desde o começo na iniciativa do porto digital (www.portodigital.org) aqui no recife; fui o secretário de ciência e tecnologia do estado de pernambuco por 7 anos (governo jarbas vasconcelos); sempre foi MUITO difícil para o banco do nordeste entrar no financiamento das empresas de software — problema com as “famosas” garantias reais;
2/é por isso que parti para tratar no assunto logo na escala maior, da política nacional, do bndes; repito: só acretido em programa de inclusão digital neste país de dimensões continentais se for MASSIVO — e só uma forma de fazer issso, é com VOCÊS, LAN-HOUSEIROS!
3/ronaldo, se você estiver certo (200 mil só em sp?), isso reforça enormemente o meu argumento — toda força à ABCID! ALEXANDRE! procura logo o BNDES, de forma organizada, com um projeto bem feito — fala direto com Luciano Coutinho!
abraços
Os dados estao ai pra provar a dificuldade e porque nao temos leis que regulamentao entao o que acontesse competir com empresas nao legalizadas e sem o apoio do governos e altamente complicado mas vamos aqui comprovar que voce esta certo
B4 – LOCAL DE USO INDIVIDUAL DO COMPUTADOR
Percentual sobre o total de usuários de computador1
http://www.cetic.br/usuarios/tic/2006/rel-comp-04.htm
Centro público de acesso gratuito3 –> 3,43%
Centro público de acesso pago4 –> 45,97%
Em casa –> 26,92%
Isso e no nordeste
A4 – PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET1
Percentual sobre o total de domicílios2
Tem acesso –> 5,54%
Nao tem Acesso –>94,37%
Se a porcentagem que tem de pessoas no nordeste no ano de 2006 (NORDESTE) e de 5,54% e desse total 45,97% usa cybercafe e lanhouse
nem presiso falar a importancia disso nao e ?
o que falta pro BUUM
Simples que o governos pare de gastar milhoes com licitaçoes em centros que em menos de 1 ano ta tudo pixado que tem que fazer licitação pra um tecnico cobrar um absurdo pra ir la limpar uma memoria e colocar no local de novo e começar a fazer a parceria que tanto falao publico privado
aqui temos uma ideia bacana lanhouses que sao legais cnpj e tudo mais fazer 1 parceria com a prefeitura so pra cortar a taxa de iluminação publica conseguindo isso no ultimo domingo do mes as lanhouses de fortaleza irao colocar o acesso a 0,50 e para estudantes a 0,25 hora se contar o tanto de empresas que irao se legalizar atraz desse beneficio e se contar o quanto o governo ira começar a recadar de ISS desse numero grandioso so falta 1 politico querer se eleger pra saber que isso e uma mina nao explorada
Desculpem ai mas a luta e grande presisamos de ajuda
oi ronaldo,
1/ótimos dados — é assim que vai fortalecendo o projeto pra apresentar aos “homes” do bndes…é impressionante o percentual (na tab do link no seu comentário) no nordeste dos que usam computadores nas lan-houses — o DOBRO do sudeste;
2/a idéia de buscar parcerias com as prefeituras é legal…idem fazer isso com o governo do estado via reduçao de icms para serviços de eletricidade e comunicação vinculados às lan-houses…manda bronca, vem eleiçao municipal aí…
[]s
Claudio, demorou mas alguma coisa ta acontecendo
BRASÍLIA – Para tentar atingir a meta de 90 milhões de acessos de banda larga em 2014, uma das propostas do Ministério das Comunicações no documento “O Brasil em alta velocidade” é realizar a concessão de novas outorgas de TV por assinatura via cabo. O objetivo é aumentar em cerca de 25% o total dos domicílios com acesso à internet banda larga via TV a cabo. Isso também permitiria aumentar o número de cidades com esse serviço.
Outra linha de ação é financiar o setor de telecomunicações. Uma novidade é a de destinação de recursos do BNDES para as lan houses. Também seriam oferecidas linhas de crédito para projetos de expansão do acesso tanto para banda larga fixa quanto móvel.
Link da noticia:
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/11/24/ministerio-das-comunicacoes-defende-desoneracoes-mais-financiamento-para-expandir-banda-larga-914905271.asp